Sertão

Leandro Júnior (nascido em 1984) é pintor e escultor figurativo, com temas artísticos extraídos da humilde vida rural do vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Conhecido como sertão, é um lugar de rara beleza — terra de um povo orgulhoso e diverso, com uma complexa história.

Nascido em Cachoeira, município de Chapada do Norte, no vale do Jequitinhonha, Leandro Junior se inspira na cultura e no companheirismo desta montanhosa área rural, onde a sede do município possui apenas 7 mil habitantes. Morador desta região há 35 anos, Júnior desenvolveu seu método artístico usando argila nativa que extrai dos íngremes vales da região, o que resulta em obras que ecoam a natureza (sertaneja) de suas raízes regionais e culturais. Esculpidas em argila sólida ou pintadas sobre tela com argila caseira liquefeita, as obras de Júnior exploram a vida no vale do Jequitinhonha e sua ancestralidade histórica, que inclui numerosos descendentes de africanos escravizados fugitivos que ainda vivem em muitos quilombos da região — comunidades fundadas pelos antepassados dessas pessoas.

Mãos humanas & substância da terra

A argila é o principal material das pinturas e esculturas de Leandro Júnior. O artista extrai o mineral pessoalmente das colinas de Jequitinhonha e faz o processo de refino, para que possa ser transformado em tinta e aplicado em tela ou modelado e queimado em forno de barro, para se transformar em esculturas que incorporam ainda camadas de páginas de livros coladas, retiradas de notáveis poemas e romances. Essas esculturas remetem a obras de arte visuais nas quais, há décadas, artistas incorporam palavras de poemas, romances e outras formas literárias na pintura e na colagem, para criar objetos que podem ser vistos e lidos. Esta é uma prática que teve seu primeiro grande florescimento em Paris, no início do século 20, e que continua até hoje na obra de Júnior e tantos outros, em grande parte devido ao seu poder poético. Nas pinturas e esculturas de Júnior, a prática ajuda a moldar uma fascinante elegia ao estilo de vida sertanejo de Jequitinhonha, onde as terras em que o ouro era extraído pelas primeiras gerações de africanos escravizados estão agora pontilhadas com fazendas de cachaça local. Muitas das pinturas de Júnior envolvem essencialmente camadas de páginas de livros retiradas de antigas enciclopédias da história brasileira, bem como páginas de obras famosas da literatura do país, como a do romance de 1956 de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, centrado no região pobre do interior do sertão, onde Júnior cresceu.

História & herança

As pinturas de Leandro Júnior — criadas com argila líquida escavada da terra da região; com folhas de ouro que fazem referência à mineração; e com páginas queimadas de livros históricos — são uma homenagem visual à região de Jequitinhonha, seu povo e seu terreno montanhoso. Tomadas como um todo, as pinturas testemunham com elegância os caminhos que moldaram a história da humanidade ao longo dos séculos, através da luta e sobrevivência.

Video

Lugar & Processo: Comunidade

Uma entrevista em vídeo com foco no processo artístico de Leandro